Flores de Obaluaiê, de Miguel Veiga

17 de maio a 1º de julho, no Centro Cultural do Ministério Público

Vulnerável Metamorfose, escultura de resina e tecido, 2022, 130 x 80 cm

Inspirada no mito Yorubá de Obaluaiê, a exposição é uma instalação composta de pinturas e esculturas. Nela é feita uma correlação entre rejeição e acolhimento, vividas pelo Orixá, e as mazelas enfrentadas pela humanidade nos dias de hoje, em questões como gênero, orientação sexual e etnia. No mito, os problemas são, metaforicamente, convertidos em superação quando a divindade transforma suas feridas em pipocas: as “Flores de Obaluaiê”.

A instalação Flores de Obaluaiê

Viado incubado no armário, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm

A concepção artística da instalação, composta por dezenove obras em diferentes suportes, divididas em dois ambientes, é motivada pela questão social que envolve a violência que sofre a população LGBTI+ e outras minorias, discriminadas por não corresponderem ao padrão consensual estabelecido pela sociedade, ainda em grande medida racista, patriarcal e homofóbica.

As angústias e transtornos sofridos por esta população são, muitas vezes, contidos, sufocados e reprimidos voluntariamente e, para evitar consequências como agressões e homicídios, os indivíduos acuados passam a viver em terríveis claustros emocionais e psicológicos, que podem evoluir para transtornos da saúde e culminar em suicídios.

Popularmente e de forma pejorativa, estes “comportamentos” geraram uma espécie de “bordão” metafórico, se referindo aos recolhimentos íntimos destes sofrimentos e conflitos, o “escondido no armário”. Estas angústias, por vezes, transcendem a questão da sexualidade e passam a envolver aspectos como gênero, pobreza, etnia, aparência física, escolarização e religião.

O viés escolhido para a ambientação da instalação foi o bordão já citado e a disposição das obras está dentro de uma estilização ou ressignificação de armários feitos em madeira de pinus. A construção visual se alicerçou também na Semiótica, buscando formas, cores, signos, ou códigos nacionais e internacionais, que representam algumas das populações inspiradoras desta obra, com a intenção de criar um contexto visual para estimular a formação de conceitos.

O mito da origem das Flores de Obaluaiê

Segundo conta o mito Iorubá, Obaluaiê é filho de Nanã e Oxalá, e nasceu com o corpo todo coberto de feridas. As chagas foram uma forma de castigo pela sedução que sua mãe fizera ao supremo orixá mesmo sabendo que ele era comprometido com Iemanjá.

Quando viu o recém-nascido com o corpo coberto de feridas, marcas e deformações, que poderiam ser de varíola, a orixá o rejeitou, abandonando-o em uma praia para que o mar desse fim àquele sofrimento.

Atraída pelo choro, Iemanjá encontrou a criança sendo devorada por crustáceos e quase morto, despertando-lhe o instinto materno. Muito comovida, ela o acolheu como filho, cuidando da sua saúde.

Porém, o jovem Obaluaiê ficou com o seu corpo todo marcado por inúmeras feridas e cicatrizes, que causavam muitos constrangimentos e o isolavam do convívio com os outros orixás.

Ogum, penalizado com a situação, cobriu o corpo dele com roupas e um capuz de palhas, que escondera também o rosto danificado pela doença.

Certa vez em uma festa dos Orixás, o seu comportamento arredio e isolado chamou a atenção de Iansã, deusa dos ventos e tempestades, que não contendo a curiosidade em saber quem se escondia debaixo das palhas, soprou os ventos fortes, revelando um jovem belo e viril com a pele marcada pelas cicatrizes que tanto o entristeciam. Encantada pelo jovem, resolveu tirá-lo para dançar e, em cada rodopio cortando o ar, as cicatrizes e feridas pulavam do seu corpo, sendo transformadas em pipocas, deixando-o reluzente de tanta luz e encantamento por tão rara beleza. O chão ficou todo coberto de pipocas parecidas com flores brancas, as Flores de Obaluaiê!

Armário da bicha louca, escultura de resina e tecido, 2022, 90 x 80 cm

A arte enquanto expressão pessoal e expressão da cultura na obra de Miguel Veiga

Por Almir Valente 06/05/2022

Armário do gilete, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm

Compreendemos que a arte representa um mundo onde o homem está presente de modo determinante – um mundo humano. Assim, na medida em que a arte tem como mediação o humano, é uma espécie de autoconsciência da humanidade através de seus vários momentos históricos. A arte entendida aqui como cultura, e cultura sendo “um reflexo ampliado do ‘eu’, um ‘grande espelho’ onde nós reconhecemos nossas identidades, e onde negociamos nossas dissonâncias”. (ORTHOF, p. 09, grifos do autor).   

A obra de arte contemporânea do artista visual Miguel Veiga é uma arte que, ao se tornar uma presença na realidade torna-se esse reflexo ampliado do “eu, um grande espelho – que não somente reflete nossa imagem, pois é transitória, não há fixação, mas que nos faz refletir sobre nós mesmos a partir de nossa cultura. Através de sua arte como expressão pessoal, torna-se possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos; e como expressão da cultura, temos uma identificação cultural – capacita a não sermos estranhos em nosso próprio ambiente.

A relação entre essas duas formas de expressão (individual e cultural) da arte, nos conduz a uma temática transversal observada no conjunto da obra de Miguel Veiga, que é a sua abordagem sobre o ser humano, mas enfaticamente, sobre a humanidade e suas utopias, distopias e aporias. Frente às aporias de nossa atualidade vividas pela humanidade, na sua própria desumanização, em um mundo distópico, nos resta a acreditar em nossas utopias, na empatia com o outro, em uma verdadeira revolução ecológica e social e pela arte buscar a estesia do corpo frente à sua própria (an)estesia.

Abrangida desta forma, a obra de arte, embora seja um produto construído pela sensibilidade e para a sensibilidade humana, o que a diferencia de um utensílio é justamente o fato de ela sempre expressar algo além de seu objeto puramente material. As obras de Miguel Veiga extrapolam sua materialidade e trazem novos significados em sua produção de sentido. Por isso, a obra de arte, como expressão pessoal e expressão da cultura, pode ser compreendida como um Volksgeist (espírito de um povo) e um Zeitgeist (espírito de um tempo) (HEGEL, 1999, p. 43). E remetendo além do material e sua funcionalidade prática, a obra de arte pode se definir por seu significado. Assim, temos a apreensão estética ou estésica da obra Miguel Veiga que traz em seu texto visual a sua relação com o seu contexto.

A relação entre o texto e o contexto que se estabelece aumenta o campo de ação da arte contemporânea e produz novos sentidos nas obras de arte. Pelo viés da linguagem plástica da escultura, Rosalind Krauss, em Escultura no campo ampliado, analisa as produções artísticas entre os anos de 1969 a 1979, identificando-as como não pertencentes mais à categoria de escultura conforme a conhecemos, mas como detentora de uma lógica que lhe é característica. As obras de Miguel Veiga expostas no Centro Cultural do Ministério Público (CCMP) correspondem em termos de linguagem visual, a uma instalação composta de esculturas e pinturas, que vão além dos limites de suas próprias linguagens (campo ampliado). Quando nos referimos às pinturas de Miguel Veiga podemos também lhe atribuir novas nomenclaturas, que surgiram na arte no Século XX, ao que convencionamos chamar de objeto, como alternativa ao “espaço fictício” ou “figurado” da pintura para entendermos tais ampliações conceituais e experimentais: o papier collé (Cubismo), o ready-made (Dadaísmo), o objet trouvé (Surrealismo), as assemblages do Novo Realismo, etc.

A exposição se intitula Flores de Obaluaiê, e segundo o artista sua obra instalada pretende fazer, “uma correlação da rejeição e acolhimento vivido pelo orixá semelhantes aos problemas e mazelas enfrentados por humanos por questões de gênero, etnias e outros que metaforicamente são convertidos em superação como fez a divindade transformando suas feridas em pipocas de milho conhecidas como “flores de Obaluaiê”. Uma abordagem temática metafórica muito própria das questões tratadas pela arte contemporânea e pertinentes ao momento em que vivemos, que trazem a necessidade de (re)escrevermos e (re)significarmos nossa maneira de sentir e pensar o nosso mundo cultural humano, nos permitindo enquanto indivíduos analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudarmos a realidade que foi analisada. Por fim acrescentaria, a força criativa e expressiva da obra produzida por Miguel Veiga em que a sua arte está entre aquelas que de forma sui generis atesta a transformação do mundo material em um mundo propriamente humano, em mundo-da-vida.

REFERÊNCIAS

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Cursos de estética. São Paulo: EDUSP, 1999. I.

GULLAR, Ferreira. Argumentação contra a morte da arte. Rio de Janeiro: Revan, 1999.

ORTHOF, nº 42. Brasília: Editora UnB, p. 09. KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. 2012. Disponível em: <http://www.ppgav.eba.ufrj.br/wpcontent/uploads/2012/01/ae17_Rosalind_Krauss.pdf>. Acesso em: 01 de jul 2015.

Biba no armário, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm
Armário da transgonia, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 80 cm
Mãos púrpuras quebram armário, acrílica sobre madeira, 2022, 90 x 60 cm
Os frescos no armário, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm
Armário do gay sentenciado, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm
Armário da saboeira, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm
Metamorfose intolerável, escultura de resina e tecido, 2022, 130 x 100 cm

Miguel Veiga

Miguel Estefanio Veiga Filho é artista visual em múltiplas expressões: Escultura, Pintura, Desenho, Instalações e Performances. É Mestre em Pedagogia Profissional (CEFET-MA / ISPETP – Havana/Cuba), Especialista em Educação Artística e Licenciado em Desenho e Artes Plásticas (UFMA). Tem várias premiações com seus trabalhos em Pintura, Escultura e Desenho.

Armário do Perobo Versátil, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm

Ficha Técnica

Criação e execução: Miguel Veiga

Colaboração em resinagem, marcenaria e montagem: Gustavo Sartorato -Benedito Segundo -Igor Madson

Apoio à montagem da exposição: Jodelmo Pereira -Ecleomar Martins -Davison Ferreira

Administração CCMP: Dulce Serra Moreira

Fotografias: Elizabeth Bezerra

Curadoria: Francisco Colombo

Armário do Qualhira, acrílica sobre tela, 2022, 90 x 60 cm
Invisível armário Queer, escultura de resina e tecido, 2022, 200 x 80 cm
Armário da eterna purpurina (detalhe), objeto em madeira e jornal, 2022, 195 x 90 x 80 cm
O penitente Marte do armário, escultura de resina e tecido, 2022, 130 x 80 cm
O penitente Vênus do armário, escultura de resina e tecido, 2022, 130 x 80 cm
O armário do boiola, escultura de resina e tecido, 2022, 130 x 80 cm
Franga aprisionada, escultura de resina e tecido, 2022, 130 x 80 cm

Paralelas Convergentes – Laços de Sangue, de Evgeny Solomonovich Itskovich

Qualidade Vermelha da Vida, óleo sobre tela, 2015, 50 x 70cm

A seleção dos quadros para a exposição foi feita pela ótica do Projeto Paralelas Convergentes, desenvolvido no âmbito do ECI Museum, que tenta reunir as características que se encontram em pontos de intercessão de culturas, independentemente da sua localização geográfica. Laços de Sangue têm a ver com nossa ligação ancestral, com família que ultrapassa os limites territoriais, que se opõe a toda e qualquer guerra. As obras em exposição retratam o florescer da Ucrânia, pessoas e paisagens ainda intocáveis.

Lá da janela, atirados ao vidro…, óleo sobre tela, 2002, 90 x 60cm

As obras estão expostas no Espaço de Artes Márcia Sandes, na Procuradoria Geral de Justiça. A entrada é gratuita e a exposição permanece em cartaz até o dia 31 de maio.

A mesa estava posta, mas demorávamos a ter pressa…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
Mistério do devoramento do mamão, óleo sobre cartolina, 2015, 30 x 20cm
Dourados defumados da Crimeia, óleo sobre cartolina, 2004, 35 x 50cm
Mas em agosto há tanta plenitude…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
A natureza se aproximava da amarílides…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
Alegria azul e tristeza verde, óleo sobre tela, 2006, 50 x 70cm
Frutas para você, óleo sobre tela, 2006, 30 x 40cm
“Lady” Capybara, óleo sobre tela, 2016, 70 x 100cm
Amor em existências, óleo sobre tela, 2002, 60 x 50cm
E lá atrás dos arbustos, onde pendurada…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
Da folhagem nascia o claro-escuro…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
Pessegueiro, óleo sobre cartolina, 2005, 50 x 40cm
Batalha da cebola vermelha, óleo sobre cartolina, 2006, 50 x 40cm
Sempre este verão, sempre murmurando…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
Então anoitecia. Ainda não sabíamos…, óleo sobre tela, 2004, 90 x 60cm
Vida do além das verduras em um dia ensolarado, óleo sobre cartolina, 2003
Tempo de limão regido pelo signo de Peixes, óleo sobre tela, 2012, 50 x 70cm
Maria em presépio festivo, óleo sobre tela, 2013, 100 x 80cm
Acerola rock & roll, óleo sobre tela, 2011, 30 x 40cm
Manga-Manga!, óleo sobre tela, 2014, 50 x 70cm
Toque de maçã, óleo sobre tela, 2014, 50 x 70cm

ECI – Evgeny Solomonovich Itskovich

Artista plástico, poeta e escritor, Evgeny Solomonovich Itskovich ou ECI, é natural de Kiev, atual Ucrânia. Passou boa parte de sua vida em Moscou, Rússia, até mudar para São Luís, onde permanece até os dias atuais. Começou a trajetória artística na literatura, escrevendo poesia desde a adolescência. Aos vinte anos, seus poemas foram publicados em periódico. Em 1995 foi lançado seu livro de poesias Placas do Coração.

Começou a pintar um pouco depois, no ano de 2002, em função do seu segundo livro, intitulado Afresco de Outono, finalizando 85 quadros na técnica de óleo sobre tela. Em 2005 realizou sua primeira exposição na Galeria Asti, em Moscou e logo uma parte de suas obras entrou para a edição do disco-catálogo Artistas plásticos de Moscou 2005.

Em 2006, ao mudar-se para o Maranhão, passou a realizar exposições e atividades artísticas localmente e inaugurou, em 2010, o Espaço Cultural Russo – ECI Museum, contendo um acervo permanente com cerca de 200 de suas obras e mais de 100 de outros artistas.

O SALTO

Em cartaz nas Promotorias de Justiça de Imperatriz até o dia 15 de abril, segunda a sexta, das 8h às 15h. Visitação gratuita. Telefone: (99) 3525-2575

O nome é um trocadilho e faz alusão não só ao salto alto, mas também ao salto que todas as mulheres deram na vida, apesar das adversidades. Promotoras de justiça, juízas, empreendedoras, lavadeiras, quebradeiras de coco, faxineiras e tantas outras.

Uma mulher já nasce em uma sociedade que lhe quer na cozinha, como destino final. Uma sociedade que quer lhe calar, com altos números de violência doméstica, que não consegue emprego porque tem filhos, porque é estereotipada por seu jeito de ser. Por seu cabelo, por sua cor. Mas ainda assim ela dá um salto. Ela grita, pede socorro. Ela diz não. Ela diz sim à vida. Ela dá um SALTO. ( Iane Carolina Silva )

A exposição é uma iniciativa do Centro Cultural e Administrativo do Ministério Público do Maranhão em parceria com as Promotorias de Justiça de Imperatriz e a Fundação Cultural de Imperatriz. E conta com sete telas do acervo da Fundação Cultural (Presidente Paulinho Lobão) dos artistas locais: Sônia Maria, Ijanes Guimarães e Glauce.

Curadores da exposição: Iane Carolina Silva/ analista ministerial – jornalista e Charles de Oliveira/ diretor executivo do Conservatório de Música de Imperatriz.

Ilhados

Em cartaz no Centro Cultural do Ministério Público até o dia 29 de abril. Visitação gratuita. Agendamentos pelo WhatsApp: (98) 99200 2719.

(há) cessibilidade

Com o avanço das discussões sobre a deficiência no âmbito social e cultural, a falta de acessibilidade passou a ser percebida como um fator que contribui para a invisibilidade das pessoas com deficiência e que revela uma violência normativa, que privilegia algumas vidas em detrimento de outras, convocando a sociedade para reflexões sobre as barreiras que dificultam a participação das pessoas com deficiência no cenário sociocultural.

Nesse sentido, a Exposição Ilhados parte da inquietação do trio de artistas maranhenses, o coletivo “Os Dalí”, diante dos depoimentos sobre as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência percebidas na cidade de São Luís – Maranhão.

A exposição conta com uma série de nove fotografias e quatro instalações artísticas, além de recursos de tecnologia assistiva como: QR Code com áudio descritivo e MP3 com áudio descritivo que pretendem discutir, refletir e problematizar sobre a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência em várias instâncias.

Coletivo Os Dalí

A arte não tem obstáculos
sou

O Coletivo Os Dalí é composto por três artistas e arte educadores maranhenses: Edi Bruzaca, Hugo Alves e Palloma de Castro. O coletivo se destina à pesquisa e desenvolvimento de projetos voltados à Acessibilidade Cultural para PcD. Além disso, individualmente os artistas desenvolvem trabalhos com estética surrealista, por isso o nome “Os Dalí”, como uma referência ao ilustre e notável artista Salvador Dalí.

Os artistas

EDI BRUZACA @edibruzaca

Edi Bruzaca é graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão. Conheceu o graffiti em meados dos anos 2000. Busca em seu trabalho uma linguagem lúdica, explorando os estilos de graffiti, misturando realidade urbana com o universo onírico, destacando traços, cores e texturas que dão movimento e equilíbrio a sua obra.

PALLOMA DE CASTRO @pahdecastro

Palloma de Castro é artista, arte educadora pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), mediadora cultural, especialista em Metodologias Ativas, Neuropsicopedagogia e Educação Especial.

HUGO ALVES @jerlysonhugo

Hugo Alves é artista visual, graduado de Artes Visuais na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e técnico em Multimídia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).

Mostra Homenagem: Dila

Procissão de São José do Bonfim, acrílica sobre tela, 2021
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)

Apresentação

Dileusa Dinis Rodrigues, a Dila, nasceu no dia 26 de abril de 1939, em Humberto de Campos, no Maranhão. Autodidata, expressa-se por meio de pinturas em óleo sobre tela. É também escultora, gravadora e ilustradora.

Com trabalhos expostos em importantes galerias, Dila é uma referência nacional em arte naif. Seus temas variam entre cenas rurais e urbanas, resultado da sua origem no interior do Maranhão e da experiência em São Paulo, cidade onde residiu e iniciou a carreira artística. Dila tem painéis pintados no aeroporto internacional de São Luís, Assembleia Legislativa e no campus de São Luís da Universidade Federal do Maranhão, além de obras na sede da Junta Comercial do Maranhão.

A exposição reúne vinte obras de autoria de Dila, entre pinturas e litografias. Esta reunião de trabalhos só foi possível graças ao apoio do Solar do Outono e de Petros Stasinos e dos seguintes colecionadores: Eliézer Moreira, Anna Graziella Neiva e Raíssa Moreira Lima, Marcos Neres e César Casagranda, Rodrigo Fioravante, e do procurador-geral Eduardo Jorge Hiluy Nicolau. Dedicamos a eles a nossa gratidão.

A Mostra Homenagem: Dila segue em cartaz até o dia 16 de dezembro, no Espaço de Artes Márcia Sandes, na Procuradoria Geral de Justiça, com visitação das 8 às 15h.

Francisco Colombo / Curador Centro Cultural do Ministério Público

Bumba Meu Boi, acrílica sobre tela, 2021
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Lavadeiras, óleo sobre tela, 2002, 33 (A) x 35 cm (L)
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)

DILA

Para sentir a alma de um país basta descobrir como os artistas plásticos representam sua terra e seus anseios.

Dila, inscrita na linhagem de Arte Naif, autodidata, presente no palco internacional, faz parte daqueles artistas abençoados que acreditam que sua missão na terra é pintar. Seu universo pictórico, facilmente reconhecível, jorra de um olhar encantado pelo mundo, olhar que ainda não perdeu a fé no humano.

Ela adquiriu o domínio do desenho, da composição, das tintas a óleo sempre rebeldes, da xilografia e da litografia para tecer um louvor à terra, sua vegetação luxuriante, seus habitantes assíduos, tudo ilustrado minuciosamente… sua paleta, sempre harmoniosa, afluente, terrestre. As formas humanas, voluptuosas e sensuais, iguais a anjinhos barrocos nascidos no Brasil, possuem corpos desejantes que nos fixam com um olhar despretensioso. O mais marcante na obra de Dila? A onipresença do social, do coletivo. Pessoas que cuidam da terra, pessoas unidas em festas, casamentos, tarefas cotidianas, procissões, eventos históricos, num tom sempre sereno, embora solene.

O drama existencial escapa das telas da pintora. Só existe a visão de um paraíso cativante não perdido e aquela firmeza de que um mundo pacífico pode, sim, existir.

Parafraseando o escritor francês André Malraux, Dila surge como nossa amada “jardineira milagrosa que sabe plantar flores até no cimento”.

Petros Stasinos

Mestre em Psicologia da E.H.E.S.S., Paris

São Luís, 26 de Novembro de 2021

Procissão de São José de Ribamar, acrílica sobre tela, 2021
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
De Euclides da Cunha – Monte Santo., litografia (P/A), 1986, 76 (A) x 56,5 cm (L)
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Os ribeirinhos, litografia (30/100), 1991
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Sem título, litografia (P/A), 1988
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Pantanal, litografia (45/100), 1990
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Sem título, litografia (68/100), 1990
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Maria Fumaça, litografia (P/A), 1991
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Sem titulo, litografia (P/A), 1988
Obra pertencente ao acervo Eliézer Moreira
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
A colheita de algodão, acrílica sobre tela, 2021
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Sem título, óleo sobre tela, 2004
Obra pertencente ao acervo Eduardo Nicolau
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
A pescadora, óleo sobre tela, 2014
Obra pertencente ao acervo Marcos Neres e César Casagranda
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Ternura, óleo sobre tela, 2021
Obra pertencente ao acervo Anna Graziella Neiva e Raíssa Moreira Lima
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Na sombra do antigo botequim, óleo sobre tela, 2017
Obra pertencente ao acervo Anna Graziella Neiva e Raíssa Moreira Lima
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
São Francisco, óleo sobre tela, 1987
Obra pertencente ao acervo Rodrigo Fioravante
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Casarão, óleo sobre tela, 1984
Obra pertencente ao acervo Rodrigo Fioravante
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Vilarejo, óleo sobre tela, 1977
Obra pertencente ao acervo Rodrigo Fioravante
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)
Sem título, óleo sobre tela, 1977
Obra pertencente ao acervo Rodrigo Fioravante
Foto: Elizabeth Bezerra (CCMP)

CONSCIÊNCIAS

Pelo terceiro ano consecutivo o Centro Cultural do Ministério Público (CCMP) consegue trazer ao público uma exposição alusiva ao Mês da Consciência Negra e ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Muita coisa mudou desde então. Nós também mudamos. A pandemia de Covid-19 impôs perdas, restrições e quase impediu a realização deste importante evento.

Entretanto, o que não mudou foi o desejo do CCMP de abrir-se e propor o debate. O Brasil é um país, infelizmente, com grandes dívidas. A escravidão da população negra, por séculos, é uma delas. O seu fim, em 1888, fruto de um processo intenso de lutas, muitas vezes silenciadas e branqueadas, não foi capaz de sarar a ferida aberta. Hoje, esta parcela da população brasileira – na verdade a maioria, vive nas favelas, não tem acesso a saneamento básico e saúde, a uma educação de qualidade – e por isso mesmo acaba não tendo oportunidades, é a maior vítima da violência, inclusive por parte do Estado. E sofre racismo – esse pré-julgamento que invariavelmente condena.

CONSCIÊNCIAS é uma exposição coletiva construída a partir do diálogo com movimentos sociais, produtores culturais e artistas de várias localidades de São Luís e do Maranhão, residentes na capital do estado.

A diversidade de pontos de vista, fruto das mais variadas referências, está refletida nas obras em exposição, quer seja pela linguagem expressa, quer pelos suportes empregados. Assim, são forjadas estéticas plurais, na contramão de valores anteriormente hegemônicos, fazendo jus ao que de fato somos: um povo culturalmente rico e diverso.

São pinturas em tela, esculturas em cerâmica, colagens manuais, ilustrações, intervenções em azulejos, esculturas em papel reciclado e telhas 3D em cerâmica. A exposição é aberta à visitação gratuita e ficará em cartaz no Espaço de Arte Ilzé Cordeiro, no CCMP, até o dia 20 de janeiro de 2022.

A seguir apresentamos os onze participantes da coletiva CONSCIÊNCIAS.

Ana Dias Neta é filha de Codó. Nasceu em 1968, filha de Maria José Dias, lavradora e quebradeira de coco, neta dos quilombolas Maria Rosalina Dias Brandão e José dos Reis Brandão.

É Pedagoga, Especialista em Educação Inclusiva, graduanda em Gestão Escolar e Mestranda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão. É contadora de histórias e artesã desde os 16 anos e trabalha com múltiplos suportes: pintura em tecido, bordado em fitas, crochê, fantoches com espuma, arte em papel, cerâmica, vasos e animais em cimento, decoração em garrafas de vidro, biscuit, bonecas negras e livros de pano e costuras (colcha de cama, cortinas, bolsas, mochilas).

Ana Dias Neta
Mulheres de luta e resistência

Ângela Ferreira nasceu e se criou no bairro da Liberdade, em São Luís, localidade em que reside até hoje. Despertou para o interesse profissional artístico no final dos anos 1990. Já desenhou e pintou, mas hoje se realiza como escultora e restauradora. Expôs suas obras em diversos espaços, como Sesc, Odylo Costa, filho, e no Salão de Artes Plásticas de São Luís.

Ângela Ferreira
Religiosidade

Ângelu de Palmar é Multiartista/Artesão. Nascido em São Luís, tem vinte e um anos. Os pais sempre foram envolvidos com arte, nas suas variadas expressões, do teatro e artes visuais, passando pelo artesanato em palha de coco. Para ele, o ato da sua gestação já foi uma manifestação artística, derivando daí um interesse orgânico, no sentido literal da palavra, pela arte. Essa genética artística traz como carga um conjunto de anseios psicofísicos, como o desejo de ver o próprio corpo no mundo, os incômodos, satisfações, traumas e a ancestralidade. O conflito no espaço-corpo do artista leva-o a desenvolver um trabalho de experimentação de processos de produção, formas, suportes – do som à matéria.

Ângelu de Palmar
Corporização biônica, para além do homem e da máquina

Freya – Hersyla Santiago – nasceu em São Luís do Maranhão, vinda de uma família cheia de amor e cuidados. E foi na família que encontrou o amor e a inspiração artística. Quando tinha os seus cinco anos de idade, viu um tio fazer um desenho realista de uma jovem. Naquele dia tomou uma decisão: queria fazer arte! Desde então se dedicou e aperfeiçoou seus conhecimentos em desenhos realistas e pinturas, além da descoberta do dom da música.

Freya
Representatividade da mulher preta na sociedade

Jean Charles Ribeiro Chagas nasceu em São Luís do Maranhão, em um dos bairros mais tradicionais da capital, a Fé em Deus. Ainda na infância começa a observar em seu cotidiano, as múltiplas formas de interação entre as manifestações populares e as Artes Visuais, em específico, o Bumba-meu-boi, a Festa do Divino Espírito Santo, Arte Indígena, Expressões Afro-religiosas e o Carnaval de Rua. É ainda na adolescência que a paixão pelo artesanato popular ganha mais força, principalmente pelo conhecimento da “argila”, matéria prima fundamental para que começasse a trabalhar profissionalmente com a cerâmica e que o consagrará como ceramista. Em 1998, Jean Charles ingressa no mundo das Artes através das exposições coletivas e concursos realizados pelo Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, Universidade Federal do Maranhão e Fundação Municipal de Cultura. Foi premiado em vários concursos e pôde, em muitas oportunidades, expor individualmente em galerias públicas e privadas de São Luís. Suas obras puderam ser vistas em outros Estados do Brasil, como Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Distrito Federal, em outros países da América Latina, como Argentina, Chile, México e Uruguai, bem como, ainda em países da Europa, como França, Holanda, Itália e Espanha. Por meio do seu olhar, Jean Charles se expressa, além da cerâmica, por meio de outras técnicas para a elaboração de seus trabalhos artísticos, como Instalações Artísticas e Pinturas.

Jean Charles
Abrigo

Maria Izabel Mendes Matos nasceu em 1952, em São Luís, filha da costureira Maria Garcia e do Estivador Sebastião Mendes. Teve seu primeiro contato, com argila aos cinco anos de idade. Gostava de fazer figuras humanas, brincando com o barro, pois acompanhava seus pais e o tio Bento, que trabalhavam numa olaria. A sua inspiração vem da avó Rita Garcia, que fazia panelas, cachimbos e outras peças de cerâmica.

É Mestra na arte da cerâmica e se sente realizada como artesã e com o poder de repassar seus saberes para os seus semelhantes. Desenvolve relevantes projetos nas universidades Federal e Estadual do Maranhão e oficinas de cerâmica em quilombos.

Izabel Matos
A fé

Rosane Meireles Lopes é uma artista versátil e trabalha com técnicas variadas: azulejaria, reciclagem, corda seca em cerâmica, técnicas variadas em MDF e telhas em 3D. Participa frequentemente de feiras de artesanato e ministra oficinas com regularidade.

Rosane Lopes

Thiago Cruz nasceu em Imperatriz, no sul do Maranhão, em 1991. O seu interesse pelo universo das artes surgiu na infância, quando já gostava de se expressar por meio de desenhos. A inclinação artística foi se intensificando quando passou a frequentar o curso de teatro e depois acabou sendo um dos fundadores da Kolobô (movimento, em Iorubá), cuja principal proposta é unir as ideias de moda sustentável e afro empreendedorismo, utilizando a arte como uma das principais ferramentas para falar sobre nossos ideais, gostos e experiências. Pela segunda vez Thiago expõe no CCMP.

Thiago Cruz
Eu, o infinito

Uaatê (Nascido da Lua ou Lua Grande – é como o povo indígena da tribo Sateré Mawé chama os que nascem pela noite) é o nome artístico do ceramista, bordador e pintor Jonas Santos. Uaatê surgiu da necessidade do artista em expor o que era sentido dentro de si. Há dois anos se aprofunda na pintura abstrata e no neoexpressionismo moderno, tendo como referência artistas de base da cultura negra e ancestral, com inspirações no afro punk e técnicas de linha única. Escreve poesia e prosa e confecciona zines.

Uaatê
Cheio de graça

Vitória Maria Rodrigues é ceramista autodidata. O pontapé inicial do seu envolvimento com o mundo das artes deu-se quando participou de um curso de Arte Sacra em madeira, quando recebeu o incentivo da professora Imain Pedrosa. Desde então participou de diversas exposições. Ministra regularmente, no Estaleiro Escola do Sítio Tamancão, oficina de escultura em cerâmica.Vytto Rodriguez é um artista plástico polivalente. Atua com oceramista e escultor, além de pintor e desenhista. Nasceu em São Luís, em 1990. É também professor de cerâmica há quatro anos. Expôs seus trabalhos em diversas oportunidades, destacando-se contextos em que se homenageiam a cidade de São Luís e o seu rico patrimônio histórico.

Vitória Rodrigues

Vytto Rodriguez é um artista plástico polivalente. Atua como ceramista e escultor, além de pintor e desenhista. Nasceu em São Luís, em 1990. É também professor de cerâmica há quatro anos. Expôs seus trabalhos em diversas oportunidades, destacando-se contextos em que se homenageiam a cidade de São Luís e o seu rico patrimônio histórico.

Vytto Rodriguez
Maria Firmina

Ser Menina: mais obras da coletiva

Exposição é composta por mais de cem trabalhos

A exposição coletiva Ser Menina, em cartaz no Centro Cultural do Ministério Público (CCMP) e na Procuradoria Geral de Justiça (PGJ), apresenta obras de jovens artistas, estudantes do Centro de Ensino Maria José Aragão, no bairro da Cidade Operária, e ainda de quinze meninas, atendidas pela Fundação Justiça e Paz se Abraçarão, na Cidade Olímpica.

Nesta postagem acrescentamos mais algumas imagens dos trabalhosa expostos.

Ser Menina

Aquarela produzida em oficina conduzida pela artista plástica Cláudia Sopas

Apresentação

A exposição coletiva Ser Menina é uma homenagem do Ministério Público do Maranhão a todas as Meninas pela sua data, o dia 11 de outubro! As obras, que podem ser visitadas presencialmente, foram obtidas em duas frentes de trabalho.

A primeira e maior reúne obras do Centro de Ensino Maria José Aragão, fruto do Projeto Pare. Pense. Leia!, realizado mensalmente em âmbito escolar. O Projeto tem por objetivo tornar a prática da leitura prazerosa e produtiva, fugindo do mero encadeamento mecânico entre letras, palavras, frases e parágrafos para, quem sabe, proporcionar a possibilidade de uma leitura crítica do mundo.

Atendendo a pedido do Centro Cultural do Ministério Público (CCMP), o diretor do Centro de Ensino Maria José Aragão, professor Wilson Chagas, levou à comunidade escolar, meninas e meninos, adolescentes do 1º e 2º ano do ensino médio, o tema Ser Menina: Direito à vida, descobertas e conquistas. Dentro deste grande tema, foram debatidos desejos, sonhos, descobertas, conquistas, empoderamento, enfrentamento à violência, da gravidez ao parto, inseguranças, angústias, cobranças, imposições comportamentais, o medo, as questões relativas ao vestir e ao sentar, às cores e aos brinquedos, a obrigação de ser cuidadora, o que é ou não permitido à menina, mesmo nos dias de hoje…

Os trabalhos contaram com o envolvimento dos professores de todas as áreas de conhecimentos (Linguagens, Matemática e Ciências), nos turnos matutino e vespertino, originando obras em três suportes: pintura em tela (acrílica), lambe-lambe e fotografia.

Uma parceria com a Fundação Justiça e Paz se Abraçarão, localizada no bairro da Cidade Olímpica, em São Luís, proporcionou um segundo grupo de obras artísticas disponibilizadas para a exposição coletiva Ser Menina, por meio de uma oficina ministrada pela artista plástica e arquiteta Cláudia Sopas. Foi empregada a técnica da aquarela, num trabalho que durou quatro dias. A aquarela é feita em papel próprio no tamanho A3.

As quinze jovens reunidas na oficina, todas moradoras da macrorregião de São Luís, com idade entre 11 e 25 anos, são atendidas pelos projetos Menina Cidadã e Ilha em Movimento, focados no empoderamento de meninas, na luta por direitos, arte e cultura e em temas como a pobreza menstrual, uma questão de saúde pública que afeta diretamente a vida escolar das meninas.

A exposição coletiva Ser Menina ficará em cartaz até o dia 9 de novembro. As obras podem ser vistas nos Espaços de Artes Ilzé Cordeiro (CCMP) e Márcia Sandes (Procuradoria Geral de Justiça), mediante agendamento pelo email centrocultural@mpma.mp.br ou por WhatsApp, no número (98) 99200 2719, ou ainda (em breve) no endereço www.centrocultural.mpma.mp.br.

Francisco Colombo / Curador da exposição e do Centro Cultural do Ministério Público

Produção fotográfica em aparelhos celulares dos estudantes do Centro de Ensino Maria José Aragão, na Cidade Operária

Quer ficar ao meu lado?

Essa pergunta elas sempre

quiseram fazer,

sempre procuraram

uma oportunidade

com a probabilidade de que,

de lá viesse uma reação empática.

Então veio o artista

e pelos seus olhos,

abriu as janelas

para a alma delas,

Já que assim é a arte,

grita o nosso sussurro.

A arte, como o Direito,

também faz tear,

uma parte para elas.

Neste ano inteiro

vamos tecendo

o 11 de outubro.

A primeira vez que

enfim, teremos

um Dia da Menina,

e das que ainda as guardam

dentro de si.

Ei,

queremos ser vistas

e respeitadas.

Queremos viver

as nossas próprias vidas,

não mais a dos outros.

Queremos ser parte

desse arco-íris multidiverso

que forma a humanidade.

Agora já sem receio

pode perguntar, menina

Pois está garantido

que aqui dirás:

“Que bem que ficaste ao meu lado”.

Karla Adriana Holanda Farias Vieira

Diretora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão

(Rendemos homenagem aos que contribuíram na edição e na sanção da Lei Estadual n° 13.471/2020 que, cumprindo a agenda da ONU, institui o Dia Estadual da Menina, tirando-as da invisibilidade e estabelecendo um marco de políticas de promoção de igualdade que as alcancem especialmente).

Mais uma aquarela produzida pela jovem Maria Estrela

A seguir, alguns depoimentos de meninas atendidas pela Fundação Justiça e Paz se Abraçarão:

O Dia da Menina é uma data muito especial para todas nós meninas, mulheres. Sabemos que enfrentamos dificuldades todos os dias das nossas vidas, desde que nascemos. Porém, também sabemos que a gente tem momentos felizes e conquistas que nos alegram.

O Dia da Menina retrata coisas importantes porque, além das conquistas alcançadas, lembra das dores e antigas lutas de séculos passados.

Shayanne Santos (15 anos)

As telas expostas foram produzidas utilizando as técnicas de pintura acrílica e lambe-lambe

O Dia da Menina é celebrado desde 2012. A celebração é marcada pelos progressos com relação aos direitos das meninas e para reconhecer também que ainda há muito o que se caminhar.

Vivemos em uma sociedade machista que nos condiciona a sonhar menos e até mesmo viver menos. É importante celebrar, fazer memória da razão para a existência desta deta. Não podemos esquecer que ainda existem meninas casando aos 12 anos, que ainda existem meninas que não tem acesso à educação e muitas outras sem perspectivas de sobrevivência.

Dia 11 de outubro é dia de luta, de resistência. Dia de dizer que somos mais fortes juntas e cada dia mais organizadas.

Bianka Melo (21 anos)

Mais de 350 alunas e alunos do Centro de Ensino Maria Aragão participaram de todo o processo de produção das obras expostas

Ser menina é saber desde cedo que precisamos ser mulher

Não temos tempo de ser menina com a falta de educação, segurança, saúde e lazer à nossa volta

Somos filhas e netas de mulheres que não tiveram tempo de ser meninas

Queremos nossa essência respeitada, equidade para todas as nossas diferenças

Ser menina significa ser livre e dona da sua própria jornada, mas quase sempre silenciada

Somos vocês ecoando e, cuidado, estamos nos escutando

Queremos tempo para ser meninas

Júlia Cristine (18 anos)

A marca da exposição Ser Menina é, sem dúvida, o trabalho em equipe

Ser menina é um orgulho! E é, ao mesmo tempo, um enfrentamento permanente nesta sociedade em que vivemos, com todo o patriarcado que vemos ao longo dos anos… e como é difícil andar na rua sem ser assediada…

Essa data é importante para que possamos lembrar de como é marcante a nossa militância e resistência como meninas; para mostrar nossa força, mesmo que queiram nos impor coisas pelo simples fato de sermos meninas.

Lutamos para quebrar o machismo estrutural e o patriarcado. Essa data, portanto, nos representa e nos dá encorajamento para sermos o que somos, cada dia mais fortes! Para que continuemos a resistência! Viva à militância! Um viva aos nossos direitos e ao Dia da Menina!

Keyse Saldanha (18 anos)

Oito aquarelas estão expostas na Galeria Márcia Sandes

São Luís, de Gente e de Luz

Exposição de fotografias de Fozzie homenageia São Luís

A exposição São Luís, de Gente e de luz, do fotógrafo Fozzie, é formada por um conjunto de quarenta imagens, cujo tema é a capital maranhense, que completa 409 anos no dia 8 de setembro.

A exposição física poderá ser visitada a partir do dia 9 de setembro, nos Espaços de Artes Ilzé Cordeiro (Centro Cultural do Ministério Público) e Márcia Sandes (Procuradoria Geral de Justiça) até o dia 1º de outubro. O agendamento pode ser feito pelo email centrocultural@mpma.mp.br ou por WhatsApp, no número (98) 99200 2719.

José Miranda Jr., o Fozzie

Fozzie iniciou-se na fotografia por hobbie, mas acabou sendo seduzido pelas potencialidades da arte. Hoje entende a fotografia como um meio de se comunicar com o mundo. E, ao registrar esse mesmo mundo, acaba por entender melhor quem é e quem somos.

Algumas experiências:

– Menção Honrosa no 5° Photo Nature Brasil, 2021, com a foto “Espinhos nos Lençóis”. Além disso, mais 5 fotos foram aceitas no referido concurso.

– Finalista (3° Lugar) – 2° Edição do Concurso de Fotografia FOTOSURURU – 2020, com o tema “A Suspensão do Tempo”.

– Participação na Convocatória “Eu Conheço um Lugar”, promovido pela galeria virtual ‘Segundo Olhar’.

– Participação na convocatória para a Exposição Coletiva “Humanidade e sua humanidade”, promovida pelo Amparo em Foco – Festival de Fotografia de Amparo/SP, com o tema ‘Esperança’.

– Participação no 9º Salão Nacional de Arte Fotográfica ABCclick.

– Participação na XXXI Bienal de Arte Fotográfica Brasileira Preto e Branco;

– Participação na Exposição “São Luís de Maré e Memória”, promovida pela Empresa Maranhense de Administração Portuária – EMAP.

Invisíveis, fotografia exposta exclusivamente online.

A cidade invisível

Cidade ladeira abaixo, cidade ladeira acima

Cidade exposta ao mar, exposta ao vento

Cidade que canta, encanta

Grita de alegria e grita de dor

Cidade dos azulejos, das pedras de cantarias, de ruas estreitas

Cidade dos porões, dos salões fartos, das festas, dos choros e das velas

Cidade dos becos, ruelas

Cidade do passado, cidade do presente

Cidade das festividades, das toadas, ritos religiosos e matrizes culturais

Cidade de gente 

Que tece a vida, que sonha

Que canta, sorri, encanta

Cidade viva, que o tempo deixa suas marcas

Cidade de gente, com seus saberes, suas dores e suas quimeras

Que voam para além das fachadas e das correntes

Cidade visível de pessoas INVISÍVEIS.

Dulce Serra Moreira / Curadoria

São Luís, de Gente e de Luz

No início do século XVII, na Europa nascia Luis XIII. Nas Américas, uma década após, nasceria o forte de Saint-Louis, em homenagem a esse menino, que se tornou Rei da França.

São Luís nasceu do mar. Nasceu no mar, no ‘Maragnon’. Deste rio que corre.

Entre rios, entre Mares, entre impérios, entre o sertão e a floresta, sua vocação natural sempre foi a heterogeneidade. E essa mistura, de gente, de sabores, e de cores – moldou a ilha.

De Daniel de La Touche a Jerônimo de Albuquerque, passando por Donana Jansen, e tantas outras personalidades, a ilha se criou. Cresceu, expandindo-se horizontalmente e verticalmente. A ponto de uma cisão entre uma São Luís de outrora – com seus casarões históricos, seus largos poéticos, um mundo de saudades – e uma moderna São Luís, com seus prédios, carros, avenidas e todas as desigualdades inerentes aos grandes centros urbanos.

E é cá nesse ponto, em que nos encontramos. A presente exposição tem a ambição de trazer um pouco dessa São Luís. Um pouco desse tudo, dessa mistura sem fim – o cotidiano, o bucólico, o urbano, o invisível, o sol, a lua, o mar, entre tantos os protagonistas que fazem parte dessa seleção de imagens – dessa São Luís, de Gente e de Luz.

Fozzie (José Miranda Jr.), em 29/08/2021

Exposição Delírios da quarentena, de João de Deus

Apresentação

A pandemia de Covid-19 chegou ao Maranhão em março de 2020. Antes disso, a doença já estava presente no imaginário da coletividade, por meio divulgação da imprensa e das redes sociais. Muitos chegaram a crer que era só uma “gripezinha”. À proporção que foi avançando, e isso foi muito rápido, fomos também percebendo a gravidade da situação, ao mesmo tempo em que continuávamos desorientados, sobretudo por informações desencontradas (às vezes propositalmente) de como proceder.

Fomos forçados a mudar o ponto de vista sobre certos temas. Diria até que amadurecemos em relação a várias questões, como talvez, e principalmente, em refletir sobre o nosso lugar neste mundo. Algumas atitudes se tornaram imperiosas: mais cuidado com a higiene, uso obrigatório de máscara de proteção, álcool em gel. Isolamento social, quarentena e lockdown foram definitivamente incorporadas aos vocabulários.

Todos sofreram em graus variáveis com a devastadora novidade. Mais que isso. Perdemos amigos, familiares, colegas de trabalho, conhecidos, pessoas que algum dia ouvimos falar, gente que admirávamos. De repente, filhos ficaram órfãos. Pais sem os filhos. Famílias desestruturadas. Não pudemos velar nossos mortos. Sensação terrível de que a morte estava (está) à espreita. Desespero. Mais de 500 mil vidas perdidas só no Brasil.

E o artista, este ser singular, como fica? Não saberei dizer de todos, mas o professor João de Deus aproveitou como podia para nos provocar, nos instigar. A voz contida pela angústia e o medo impregnaram telas com arte. Arte que nos ajudará a preservar a memória deste momento tão sombrio.

João de Deus mergulhou integralmente na produção artística. Foi uma defesa ante a solidão e a sensação de impotência. O que o artista nos oferece é, no fundo, por mais paradoxal que possa parecer, uma celebração da vida. A arte em João revela reminiscências tão profundas quanto difíceis de nominar, encravadas na alma e que antecedem a própria existência.
*
As obras do professor João de Deus, em exposição nos Espaços de Artes Ilzé Cordeiro (Centro Cultural do Ministério Público) e Márcia Sandes (Procuradoria Geral de Justiça), compõem um grande conjunto, intitulado Delírios da quarentena, todas criadas em 2020. A exposição encerra um período de quase 20 anos sem pintar, quando João esteve inteiramente dedicado à carreira acadêmica.

Francisco Colombo / Curador

Espaço de Artes Ilzé Cordeiro – CCMP

Telas em Dor e Cor

O ar que falta sufoca os sentidos. A dor clama em imagens, desenhando e retratando saudades, encontros e despedidas. Sensação de impotência, de solidão, na luta, que deveria ser solidária, responsável.
Telas, em cores e sombras, expressam as vidas que sobreviveram e que se foram. Refletem amores perdidos, isolados; mostram o final que não tem fim na tristeza que insiste em permanecer.
A arte invade e fala em tons; em curvas e traços reflete o mundo emocional, real. Angústias e temores acentuam-se pela indiferença, pela omissão e ação de quem nega a ciência, de quem deixa morrer.
Um pouco do muito, que sangra o coração, deixa a alma e no seu imaginário mergulha no mar das telas, dos silêncios, dos olhares profundos, que repousam no que precisam ver. São mortes, em recortes, e vidas, que seguem órfãs de suas vidas, do colorido do tempo que lhes foi roubado e que teima em não passar.
A arte pincela as chagas da pandemia, de um vírus que se agigantou, que mora no tempo, passado e presente, em um futuro incerto; que habita no medo, na insegurança, em máscaras e vidas asfixiadas, tingidas por lágrimas e sofrimento.
Em exposição, nas impressões despertas, a luz incide nas telas pelo olhar de quem cria, recria e inspira. Luz que colore os sonhos de esperança, na fé de ultrapassar este tempo para outro tempo, sem tanta dor.

Ana Teresa Silva de Freitas / Promotora de Justiça

Espaço de Artes Márcia Sandes – PGJ

O imaginário metafísico na obra de João de Deus

Conheci João de Deus de forma mais próxima quando compartilhamos espaços de exposições no Departamento de Assuntos Culturais da Universidade Federal do Maranhão (DAC/UFMA). Ele recepcionava o público performaticamente com pedaços de bolo confeitado cortados e servidos com as próprias mãos. Mais do que um convite gastronômico, era um ato de uma subversão artística através dos sentidos.
Essa maneira subversiva de ver o óbvio foi levada para a vida acadêmica e o ajudou a quebrar muitos paradigmas através das suas “aulas performáticas”, verdadeiras obras de arte produzidas durante a docência, utilizando seus talentos musicais, cênicos e outras importantes ferramentas que vão caracterizar toda a sua vida de pesquisador que que se ocupou dos “imaginários”.
As performances de João com releituras de músicas e cantores importantes nos surpreendem, pois fogem à nossa expectativa óbvia da referência, de uma estética esperada. Sempre digo que a transgressão de seu trabalho segue o caminho de uma “estética imprevisível”, a desconstrução do esperado.
A sua expressão bidimensional com a pintura ou o desenho não foge a esta característica e nos remete às referências modernistas do fantástico surrealista Marc Chagal ou dos outros transgressores “fauvistas”.
Eu diria que os delírios não estão presentes só agora na quarentena, mas estiveram durante a vida toda de João, na superação das linguagens artísticas, na formação acadêmica, na vida pessoal e coletiva, na própria construção do seu imaginário enquanto pessoa.
As imagens que vemos agora em suas obras, não são só de um idoso em quarentena pois a arte não revela cronologias, mas, como ele próprio defende, são “imaginários”, que trazem em si, impregnação de sentimentos, emoções, histórias, que ultrapassam o território individual, pois eles são constituídos de signos, sinais ou códigos que traduzem o estado das almas da coletividade humana.
Não vislumbramos nas obras de João, um compromisso mercadológico, mas algo além da nossa expectativa consumista burguesa da obra de arte, talvez a concretização metafísica das angústias coletivas nos mostrando que o fazer artístico exorciza todo mal e de forma catártica renova e traz tranquilidade às almas tão angustiadas.
A apreciação da obra de João é uma provocação a um realinhamento de pensamentos e conceitos através da arte, das formas, composições com traços e cores utilizadas. O artista nos toca de maneira sensorial, nos tira da inércia do óbvio e nos conecta ao indecifrável momento coletivo que vivemos. São “mantras” de purificação provocados por um Xamã das artes visuais.

Miguel Veiga / Artista Plástico e Professor

Milhares

Somos milhares
Vidas mortas
Vidas prisioneiras
Na enfermidade
Na dor
No colapso pandêmico.
Lágrimas
Sombras e perplexidades
Pelo adeus sem despedida
Pelo tempo que não tivemos
Pelo que se foi de nós
Em pedaços
Sem ar e no ar, diluídos
Espalhados em números, na terra,
Sob a terra.
Somos milhares
Famílias
Pessoas
Sonhos frustrados
Destinos cortados, mutilados
Pela negação,
Pelo ar compartilhado
Pelas máscaras descartadas
Pela fome
Pelo medo
Pelo desprezo da ciência
E pela violência de ver morrer e
Morrer em vão.
Somos corpos
Somos almas
Com cicatrizes abertas
Dores e horizontes incertos
Vidas sentidas, sofridas
Que esperam enfim
O Encontro
O Abraço fraterno, solidário
Consciente da vida e das vidas
Milhares que a pandemia levou.

Ana Teresa Silva de Freitas / Promotora de Justiça

O artista João de Deus

João de Deus Vieira Barros nasceu em São José de Ribamar no dia 8 de março de 1957, dia de São João de Deus, derivando daí seu nome. Estreou nas artes visuais em 1995.
É professor titular aposentado da Universidade Federal do Maranhão. Atualmente é o gestor do Centro de Cultura de São José de Ribamar.